A observação das aves é uma actividade que poderá iniciar-se em quase todos os locais em que decorre a sua vida diária, sem necessidade de difíceis excursões a lugares distantes e pouco acessíveis; um manual de campo ilustrado, um bloco dc apontamentos de bolso, um binóculo pequeno (preferivelmente 6×25 ou 7 x 50) e uma boa dose de curiosidade é tudo quanto necessita para começar. Depois, terá de conhecer um pouco aquilo com que pode contar: são necessariamente diferentes com excepção, talvez, do pardal-de-telhado as espécies que encontrará na cidade ou no campo, junio à costa ou no interior, no Minho ou no Algarve. Mas ficará certamente espantado ao verificar que à sua volta pode observar, sem grandes esforços, muitas mais aves do que aquelas que até então notara.
Se viver na cidade, além do pardal-de-telhado, o observador interessado pode ir acrescentando à sua lista o melro, a toutinegra, o verdilhão, as fuinhas, por vezes os chapins e as rabir-ruivas, cm alguns casos as cegonhas, o peneireiro-de-dorso-liso e, com a chegada da Primavera, a andorinha-das-chaminés, a andorinha-dos-beirais e o guinebó-ruidoso.
Se possuir um jardim ou habitar nas vizinhanças de um parque ou pequena mata, a sua lista enriquecerá com as estrelinhas, os tentilhões, a milheirinha, a trepadeira-cinzenta, talvez a tordo-veia. Junto à costa, as muitas espécies de gaivotas e gaivinas, os corvos-marinhos, o pica-peixe, o maçarico-das-rochas, os alcatrazes, a torda-mergu-heira, dar-lhe-ão muito campo para pesquisa. O gaio. a pega, a pega-azul, os milhafres, os peneireiros, as escrcve-deiras e tantas outras são aves conhecidas de quem vive no interior. Nos estuários e nas zonas húmidas encontrará uma enorme riqueza de avifauna.
Mas comece pelas espécies acessíveis, por aquelas que não o obrigam a deslocar-se dos seus caminhos habituais. Aprenda a classificar as aves por grandes grupos em relação às dimensões, ao habitat, ao porte, à forma das asas, dos bicos e da cauda, aos hábitos. O canto é das primeiras características que irão chamar a sua atenção, mas nenhum manual lhe ensinará com segurança a reconhecê-lo.
Tente cuidadosamente, com vestuário discreto, movimentando-se com suavidade, percorrendo as sombras, fazer a sua aproximação. Aprenda a encontrar a ave na árvore ou arbusto em que se recolhe, educando a vista e o ouvido de modo a quase não precisar mexer-se, e tente então identificá-la. Fixe o canto no ouvido, assente no seu bloco as principais características morfológicas observadas se ainda não conhece o cantor: dimensão (faça a comparação com alguma ave sua conhecida: «um pouco maior que um pardal», «do tamanho de um melro», «mais pequeno que um pombo» …), cores ou manchas características, comportamento (quieto, saltitante, marinha-dor, movimentos de cauda), forma do bico (grosso nas granívoras, fino nas insectívoras, adunco nas rapinas) e procure depois, no seu manual, a identificação correcta. Nunca anote a observação de uma ave de cuja identificação não ficou absolutamente seguro.
Faça estatísticas das aves que observou, de preferência com símbolos em vez de números: raro, frequente ou muito frequente; solitário, pequenos grupos, abundante; épocas e locais de observação (as estatísticas semanais são fáceis e particularmente reveladoras).