No início do consumo de tabaco, na Europa, em meados do século XV, até ao século passado, os malefícios do tabagismo eram desconhecidos, ou, pelo menos, despercebidos. Alguns livros de Medicina referiam de forma discreta algumas consequências do consumo de tabaco, como por exemplo o cancro do lábio ou da língua em fumadores de cachimbo. Só em meados do século passado, alguns estudos sobre os efeitos na saúde decorrentes do consumo de tabaco marcam uma viragem na forma como o tabagismo é encarado pela comunidade científica. Actualmente, as consequências do consumo de tabaco estão bem estabelecidas, com particular destaque para o cancro em várias localizações. Os efeitos nocivos foram largamente estudados e documentados, sendo incontestável a associação entre hábitos tabágicos e o desenvolvimento de doença. A lista de malefícios é vasta, incluindo doenças provocadas ou agravadas pelo fumo de tabaco. O próprio tabagismo é definido como doença crónica.
O cancro do pulmão é uma das doenças que mais frequentemente vêm ao pensamento quando se fala de tabaco. Esta doença tem vindo a registar um aumento da incidência em todo o mundo, sendo o risco directamente proporcional ao número de cigarros consumidos por dia e à duração total dos hábitos tabágicos. O impacto provocado pelo cancro do pulmão poderá, no entanto, ofuscar as restantes consequências do tabagismo, algumas delas desconhecidas pelo público em geral. Outras doenças pulmonares podem ser provocadas ou agravadas, nomeadamente a DPOC ou doença pulmonar obstrutiva crónica (enfisema pulmonar; bronquite crónica), exacerbação da asma, a maior prevalência de infecção aguda das vias respiratórias e redução significativa da função pulmonar. A maioria destas doenças ocorre ao fim de alguns anos de consumo. No caso da DPOC, a relação com o fumo de tabaco é muito evidente. Uma boa parte da população (entre 20% e 30% dos fumadores) começa a perder função muito precocemente, caminhando para a incapacidade total e morte precoce. São estes a maior parte dos consumidores de oxigénio; como estes doentes se mantêm em casa devido à incapacidade de se deslocarem, a população restante não tem consciência do seu elevadíssimo número.
A lista de doenças provocadas pelo tabaco é extensa, não se confinando apenas ao aparelho respiratório. O fumo do tabaco é a maior causa de mortalidade por cancro, e não apenas por cancro do pulmão.
Os efeitos carcinogéneos estão documentados, sendo a associação com cancro extrapulmonar incontestável, nomeadamente cancro de laringe» cavidade oral, esófago, estômago, pâncreas, aparelho urinário e colo do útero. Quer no homem, quer na mulher, o tabagismo representa um factor de risco independente para a doença cardiovascular, conduzindo na mulher a um aumento de dois a seis vezes o risco de enfarte agudo do miocárdio, mesmo no período pré-menopausa. A relação da doença vascular periférica e do aneurisma da aorta também está bem documentada. As doenças cerebrovasculares, tais como a trombose ou hemorragia cerebral, são também mais frequentes.
Nos homens, o tabagismo favorece dificuldade de erecção, ejaculação precoce, infertilidade e diminuição do desejo sexual. Nas mulheres, estão associados o cancro do colo do útero e da bexiga, menopausa precoce, menor lubrificação vaginal, diminuição de desejo sexual e infertilidade, podendo causar também abortos ou nascimento de prematuros ou com peso abaixo do normal.
Sabe-se ainda que o tabagismo interfere no metabolismo de alguns medicamentos, está associado à úlcera péptica, dificulta a cicatrização e facilita o aparecimento de complicações nos doentes diabéticos. O fumo do tabaco causa efeitos não apenas a longo prazo, mas também efeitos imediatos, como irritação nos olhos, congestão nasal, tosse, dores de cabeça e alergias.
Tabagismo
O tabagismo apresenta implicações evidentes relativamente ao aparecimento de anomalias do desenvolvimento fetal e de manifestações pós-natais, tais como morte súbita infantil, anomalias da aprendizagem e do comportamento, baixa estatura e compromisso do aparelho respiratório da criança.
Por fim, e não menos importante, especialmente numa época em que a imagem tem uma importância cada vez maior, não podemos esquecer as consequências estéticas
do tabagismo – escurecimento dos dentes, inflamação das gengivas, mau hálito e envelhecimento da pele. O hábito de fumar é prejudicial à saúde. A exposição ao fumo do tabaco continua em investigação e novas situações patológicas poderão, no futuro, ser incluídas na vasta lista de efeitos nocivos sobre a saúde.