O grão de bico é cultivado de Norte a Sul do País, excepto nas regiões muito frias, e portanto menos nos distritos do Norte e na parte serrana das Beiras. Também se cultiva só em pequena quantidade nos concelhos do Centro e Sul do País, cujos terrenos são pobres, magros, de natureza xistosa e ácidos, muito arenosos e soltos, as chamadas terras galegas, como nos concelhos do Sul do distrito de Beja; nos concelhos de Portel e Mora, no distrito de Évora; nos concelhos de Alcoutim e Olhão, do Algarve; nos de Gavião, Ponte de Sor e Nisa, no de Portalegre; Barreiro, Moita, Seixal, Sines, Almada, Sesimbra, etc, no de Setúbal; Mação, Alpiarça, Ferreira do Zêzere, Barquinha, Sardoal, Almeirim, Cartaxo, Constância, etc, do distrito de Santarém.
Considerando a produção do grão de bico por hectare, em relação à superfície territorial cultivada, podemos dividir os distritos do País em três grupos.
No primeiro grupo incluiremos os que produzem menos de um litro por hectare de superfície territorial cultivada, e são por ordem crescente, Viana do Castelo, Braga, Aveiro, Vila Real, Bragança, Porto, Castelo Branco, Guarda e Viseu.
No segundo grupo, com produções de 1 a 2 litros estão compreendidos os distritos de: Coimbra, Leiria, Setúbal, Évora, Faro, Lisboa e Santarém.
No terceiro grupo, de mais de 2 até 5, estão Portalegre com 4 e Beja com 5.
Isto não quere dizer que os distritos que menos cultivam sejam os que menos produzem por unidade de superfície cultivada de grão, antes pelo contrário, alguns dos que menos grão de bico cultivam são os que obtiveram maiores produções por hectare.
Não admira que assim seja se pensarmos que onde se cultiva pouco, esta cultura reveste o carácter de cultura hortícola ou manual, ao passo que onde se cultiva muito, as sementeiras são feitas às dezenas e às centenas de hectares por alguns proprietários.
Nas regiões onde se faz em larga escala a cultura do grão de bico e acentuadamente nos Barros fortes de Beja, Serpa, Ferreira, etc, esta cultura tem uma grande importância económica, porque só com ela se consegue rehaver, no próprio ano agrícola a importância das dispendiosas charruadas de verão, principal meio de mobilização e fertilização destas terras para a cultura do trigo.
Quando a colheita do grão de bico é regular e o preço de venda não baixa, em geral a cultura do grão paga a charruada, ou grande mobilização da terra no primeiro ano da rotação, aliviando as despesas da cultura do trigo e aumentando-lhe cerca de um terço a produção em relação às culturas feitas em terras que não foram charruadas no verão. Desde que se generalizou a lavoura mecânica e as charruadas de verão nos Barros, a cultura do grão tem-se desenvolvido consideravelmente.
Se o ano é de boas produções ou o preço do grão de bico é elevado esta cultura chega a dar lucros apreciáveis. Além disso o grão com as variadas aplicações que tem, alimentação humana, rações, café, engorda de suinos, etc., é um grande recurso para o lavrador, tanto mais que é um produto que quase sempre se vende logo no cedo, após as colheitas, Agosto e Setembro, e lhe proporciona realizar dinheiro para saldar encargos dessa época, o que não pode fazer com o trigo de mais morosa transacção.
Os terrenos mais próprios para a cultura do grão de bico são os planos, de aluvião, sem serem úmidos, argilo-arenosos e areno-argilosos, com alguma cal, de reacção neutra ou pouco alcalina e os argilo–calcáreos de natureza lacustre, principalmente os chamados Barros forneiros. No entanto o grão ainda pode produzir bem nos terrenos de encosta, não muito secos no princípio do verão, e na transição dos terrenos indicados, para outras formações geológicas muito diferentes.
Assim, vão bem nos chamados barrinhos galegos, que são argilas avermelhadas sobre os xistos, constituídas por elementos da desagregação destes misturados com argilas dioríticas ou de outra natureza com algum calcáreo e muito ferro.
Vão mal, ou não produzem nos terrenos ácidos e nas terras galegas (dos xistos) pobres e magras nas areias soltas do miocénico e do pliocénico, e são sempre duros, cozendo-se mal.
Todas as variedades, incluindo os pretos, cultivados nos terrenos próprios, com algum calcáreo, nos aluviões, nos chamados salgados das regiões marítimas, e inundáveis e nos Barros forneiros, saem de casca fina e de bom cozer. Nos terrenos arenosos e areno–argilosos e, duma maneira geral, nos ácidos ou pobres de cal, todos éles saem de casca grossa e de má cozer, impróprios ou ordinários para a alimentação humana.
Muitas vezes, nas terras de origem e contextura aparentemente idênticas ou semelhantes, umas produzem grão de bico fino e de bom cozer e outras não. E' que o facto dos terrenos produzirem legumes de bom cozer depende de mais qualquer coisa que existe ou não no terreno, além da acidez e do calcáreo, como vulgarmente se julga, e não será, certamente, a isso estranha a percentagem de sílica e principalmente a forma em que se encontra a cal, visto que alguns autores já observaram que os terrenos gessosos, isto é, que contêm calcáreo na forma de sulfato, são prejudiciais à qualidade do grão de bico ou mesmo impróprios para esta cultura e nós sabemos que alguma cal na forma de carbonato é indispensável para que os terrenos produzam grão de bico de bom cozer. Nas terras mais. próprias cultivam-se as variedades mais gradas e de maior valor e nas menos próprias ou que dão grão duro, a variedade de grão miúdo e o preto.
O grão de bico não se desenvolve ou morre nos terrenos excessivamente úmidos ou nos que facilmente alagam com as chuvas continuadas e excessivas e mal drenados.